Fui habituada a associar a Páscoa cristã a ovos, coelhos, chocolate e bacalhau. E, graças a Deus, não estou sozinha. Somos gerações de crentes e descrentes a confundir sacrifício e martírio com ovos, renascimento com chocolate, alegria com bacalhau. Culpa de quem? Da Igreja que age como se fosse a única.
Sou católica. E por muito tempo convivi com essa confusão de emoções: culpa, gula, sacrifício, gula, alegria, gula, dor, gula e finalmente culpa, muita culpa. Ninguém explicou e até hoje poucos querem explicar. A verdade é que não há interesse de parte a parte em compreender e se fazer entender. Confuso? É assim mesmo. Essa é, habitualmente, a rotina dos católicos. E não adianta, não vai mudar. Na sexta-feira virá a dor, o sacrifício, o martírio. Sábado, a malhação do Judas. Domingo, o bacalhau e os ovos de chocolate.Mas e aí, como fica a celebração, os acontecimentos, os rituais, essa história toda? Aliás, o Cristo, como é que fica?
Verdade seja dita: a instituição da Igreja Católica - secular e milenar - não guarda muito interesse em esclarecer às novas gerações e aos seus convertidos, exatamente a quem representa e a quem simboliza nesta data. Há diferença entre o Jesus de Nazaré histórico [e pouco conhecido], e Jesus, o Cristo, sacrificado e emblemático.
O primeiro representa a revolução, o cisma judaico, a contracultura, a renovação, a revolução política. O segundo, o sacrifício, a dor, a purgação dos pecados, e mais uma vez a renovação, com a sua ressureição. Ambos co-existem pela Fé. Crer. Não suspeitar, ou sequer questionar os fatos.
Acredito na Páscoa cristã que não se trata de novidade mas sim reinvenção, a partir da Páscoa judaica. Por que não assumem isso, que, afinal, o catolicismo nasceu como uma dissidência judaica? E por sua vez, que o islamismo deriva das duas antecessoras? O profeta Mohamed [Maomé] ascendeu aos céus, como Jesus, o Cristo, mil anos depois?! Tal como o sangue que nos mantém vivos, e se renova e salva vidas, somos todos iguais em nossos credos. Somos todos crentes. Ou descrentes, se preferir. Com isso, não quero pregar ou ensinar, apenas alertar que como humanos somos todos um só credo: no Criador, no deus Pai ou Mãe, no filho Redentor, no profeta interlocutor.
Desejo a você, e a sua família, uma Páscoa que represente atitudes e emoções. Por isso, desejo que você:
Renove-se e renasça;
Recicle-se e renasça;
Reutilize o que que puder e também renasça,
aonde você estiver.
Afinal, estamos no século XXI, e ao menos, estes 3 erres deveriam fazer parte de todo e qualquer livro religioso, como mandamento e princípio de convivência, sobrevivência e aceitação. Sem esquecer a tolerância, a compaixão, a caridade, a esperança ...
Grande beijo e meu carinho,
Cristhiane