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29 abril, 2010

infância não roubada

Há pouco, escrevi sobre a infância roubada de crianças travestidas de adultos e recentemente, a Roberta, do E isso é Glamour??, em um de seus textos, abordou a dureza que é ser canhoto num mundo de destros. Ao ler seu post, lembrei da minha infância. E hoje, lendo seu novo texto novamente lembrei da minha infância.

Mas daí vem a pergunta que passa pelo turbilhão de pensamentos de sua cabeça, oh! leitor/leitora, destas mal traçadas linhas... e o qui quo?

É o seguinte: na infância eu já era inconformada, eu sempre quis ser canhota, não me perguntem o por que, lembrem-se, eu era criança, e para criança não existem dúvidas com respeito ao próprio universo. Os por ques vêm do universo dos adultos.

Pois bem, antes da formatura da pré-escola, a minha professora, a dona Sueli, ensaiou com a gente o cerimonial, e fez questão de frisar que era para a gente dar a mão direita para ela entregar o diploma, em seguida passaríamos o diploma para mão esquerda e aí a cumprimentaríamos com a direita para o fotógrafo registar.

Mas, euzinha, inconformada com o meu destino de destra, de ser igual a todo mundo, me rebelei!

Decidi por conta própria subverter a ordem dos fatos, resolvi sozinha que a minha mão esquerda seria a protagonista naquele evento - a coitada da dona Sueli tentou me corrigir durante a cerimônia, mal sabia ela que era um plano arquitetado pela mente de uma criança inconformada, ainda lembro muito bem de ouvi-la cochichar "a direita, a direita"...

A seguir, a prova do crime ideológico...


Roberta, provo por A + B que existem destros solidários nesse universo de exclusão dos sinistros.

Passa-se um ano, nova casa, novo bairro, nova escola, outra realidade.

Não sei dizer o que acontecia comigo na época escolar, mas nunca me lembrava do dia exato de tirar a foto oficial - até o 3º colegial fui assim.

O fato é que a partir dos 2 anos de idade eu já usava óculos e Herbert Viana só nos anos 80 lançou a música da tribo dos usuários de óculos com lentes corretivas. Fiz muitos exercícios de ortóptica, coloquei muito leão na jaula, tirei muito leão da jaula - não é metáfora não, gente, quem passou por essa experiência sabe bem a que leão e a que jaula me refiro.

Usar óculos era normal pra mim - com ou sem o tampão ocular. Resumo, além de descabelada [lembrem-se, eu era criança de infância não roubada] saí na clássica foto escolar de óculos à la pirata ... vejam...

No ano seguinte foi realizada a cirurgia de correção do estrabismo, mas ainda hoje, se estou muito cansada, com enxaqueca, sono ou todas as anteriores, fatalmente meu olho esquerdo converge.

É isso. Quem teve uma infância não roubada tem as suas histórias  para contar. Quais são as suas?


beijo da Cris*