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19 setembro, 2010

a sua cor ou raça é...

Ontem à tarde tocou a campanhia. Entre os latidos do Ziggy, vejo no portão a moça do Censo: colete, boné e a máquina coletora de dados. Não podia fugir. Era hora de atender ao Censo 2010. 

Respondi ao questionário básico do IBGE: se o imóvel é próprio, quantas pessoas residem na moradia, faixa salarial de cada morador, quem é o 'chefe' da família, quantos banheiros a residência possui - o IBGE quer saber quantos vasos sanitários a casa possui -, se há rede de esgoto, relógio medidor de consumo de água individual,  mês e ano de nascimento de cada  morador e acho que uma ou outra questão a  mais.

Curiosa que sou, fiquei sabendo que as perguntas que eu repondia naquele instante iam diretamente para o banco de dados do IBGE e que não era ela, a moça do Censo, quem escolhia a ordem das perguntas, era a máquina coletora. Cada resposta dirigia para um novo questionário. E mais, aquele 'gps' indicava quais residências deveriam ser questionadas naquela tarde, inclusive de que lado da rua aconteceria. Monitoramento geral.

Daquelas que tive que responder a que me soou mais estranha foi esta:

- a sua cor ou raça é:  branca, preta, amarela, parda ou indígena?

Caramba! Em pleno século XXI, ainda se utiliza essa nomenclatura, de maneira equivocada? Bem, eu não iria debater a questão racial com a moça do Censo, e também não iria responder de pronto, assim, feito robô ou sei-lá-o-quê.

Lembrei da música de Gilberto Gil "a raça humana é uma semana do trabalho de Deus".

Primeiro disse que sou brasileira, e que ser brasileira me qualifica como SRD, ou, sem 'raça' definida.

Tenho ascendência européia por parte de pai, parte de ascendência européia por mãe, mas também uma enorme interrogação: haverá negros e índios na composição do meu DNA?  e em que proporção? Assim, para poder responder corretamente à pergunta, o IBGE deveria realizar exames de DNA em toda a população brasileira.

Bem, na tarde gelada de sábado, a moça do Censo sorriu para mim. Afinal, éramos iguais, só que para efeito de Censo sou branca e ela negra ou seria parda?

Gente do céu: parda? é o quê? que tal mudar essa qualificação para... café-com-leite? Eu seria um pingado - mais leite que café- e ela seria um pingado - mais café do que leite.


Ou então, mudar a questão e perguntar:

- a sua ascendência é: européia, africana, arábica, asiática ou indígena?

Porém, eu deveria me catalogar, dei de ombros [sempre quis usar essa expressão encontrada, tantas vezes, em romances do século XIX] e respondi, "tá bom, branca", mas queria completar, "pálida, amarela de escritório com olheiras que tento esconder embaixo de corretivo, base e pó".

A tarde fria de sábado no portão se encerrou para mim mas para a moça do Censo prosseguiria.