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13 novembro, 2011

o escafandro e a borboleta ~ post reeditado



Quero saber como você explica quando um tema — uma obra de arte, literatura, cinema, música etc — ronda a sua vida?

Na realidade não é apenas a obra mas sim o tema e a mensagem circunscrita. Aconteceu comigo mais de uma vez e a última me cercou nos dois últimos meses com O escafandro e a borboleta.

E em outros idiomas em que o título está traduzido há poesia e sonoridade:


o original francês
Le Scaphandre et le papillon

em inglês
The Diving Bell and the butterfly

na língua espanhola
La Escafandra y la mariposa

no italiano
L’Escafrandre i la papallona



Agora imagine do que se trata esse título  quem ainda não sabe, nem desconfia o que o espera. Assim como eu não sabia.

Primeiro, ouvi um cinéfilo comentar a respeito do filme e da incrível interpretação de Mathieu Amalric  de fato, incrível. Mas o que está por trás do filme? 


Na mesma semana, o filme foi exibido na Mostra na Cultura [da qual já falei aqui]. Pena que soube zapeando a tv, o que me aguçou mais a curiosidade, pois o filme já caminhava para o final.


Além desses eventos, fui a uma consulta médica na qual o médico é mais um cinéfilo daqueles que recomendam produções de qualidade. Logo na saída falei daquela obra, e ele nunca se deteve tanto em comentar um, contou que tem o dvd e  confessou que o filme o emociona etc.


Como vêem, trata-se daquelas histórias que chegam até a gente por caminhos diferentes, além da resenha, além da crítica, além da sala do cinema, enfim.


Dito isso, a mim não bastava assistir ao filme, precisava ler o livro e saber um pouco mais sobre Jean-Dominique Bauby, o homem que escreveu o livro de mesmo título e de maneira heroica. 

Jean-Dominique Bauby e seus filhos

Para entender um pouco do que se trata, em 1995, Jean-Dominique Bauby sofreu um AVC que o manteve em coma por 20 dias.

Ao despertar, no hospital, veio a constatação: Jean-Do [como os amigos o chamavam] estava trancado em si mesmo, numa circunstância denominada locked-in syndrome ou síndrome do encarceramento.  Jean-Dominique acordou lúcido, porém, encarcerado num corpo inerte, sem fala e com a audição atormentada. 

A ele restou apenas um olho, o esquerdo, e com este, Bauby passou a se comunicar com a ajuda da ortofonista que lhe ensinou a técnica de comunicação a partir do piscar daquele olho, o que precedia a letra correta. E assim, letra por letra surgiam as palavras, a história, o livro.

cena do filme

A partir de seu encarceramento, Jean-Dominique passou a ditar seu livro de memórias, o qual ditava diariamente, após decorar o capítulo por horas antes da escrevente chegar.

O AVC de Jean-Dominique Bauby aconteceu em 1995. Em 2007 sua história foi levada às telas. Mas de tudo, o que fica é exatamente a situação claustrofóbica vivida por Jean-Dominique, que acordou impedido de viver a plenitude de sua vida adormecida 20 dias antes.

Voltando no tempo sabemos que ele é o editor da revista ELLE francesa, apaixonado pela vida, pelo filhos, pelo pai, amante da boa mesa e vivendo uma nova fase de sua vida.


cena do filme


Não se engane porque não se trata de uma história de superação. Não espere autopiedade. Não há a menor esperança de recuperação a curto prazo. Lindo filme. Linda homenagem póstuma. 

Jean-Dominique morreu 10 dias após a publicação do livro, vitimado por uma pneumonia.


Filme e livro se completam. No primeiro, Bauby narra sua história, é dele a palavra e a voz. No segundo, seu olhar é o protagonista, visitando o passado e mostrando o presente em que ele se encontra.


Em ambos, é possível imaginar compreender o escafandro em que Jean-Dominique se encontra encarcerado, porém, para mim, ficou difícil imaginar como e de que cor era a borboleta.

Leia o livro, assista ao filme e se emocione com esta história real.



O Escafandro e a Borboleta
Jean-Dominique Bauby
142 páginas
editora Martins Fontes