Antes que inicie oficialmente o governo de Barack Obama, têm algumas coisas que eu gostaria de escrever, antes que a euforia acabe e a realidade comece.
Admiro muito o político desconhecido, até dois anos atrás, pela maioria dos habitantes do planeta, incluindo-se aí os próprios eleitores de 2008.
Ele surgiu como azarão na disputa à vaga do Partido Democrata, e na época todas as fichas estavam a favor de Hilary Clinton. Convenhamos, se ela fosse a indicada e se ela vencesse a eleição norte-americana já seria um marco histórico. Tudo levava a crer que estava escrito. Maktub.
Mas surgiu este senador discreto, com elegância, calma, segurança e eloquência [gente, tirei o trema, só não sei ainda se o circunflexo fica ou não].
Seus discursos dão idéia de sua capacidade de oratória, repletos de lindas imagens, simbolismos e citações. Não tem clichê ou lugar-comum ou mesmo metáforas futebolísticas e piadas de mau gosto. São sensacionais. Lembram do discurso em Chicago após o anúncio da vitória? É impactante.
Mas por que admiro o próximo presidente norte-americano? A resposta vem da sua vitória construída não como reação, pelo voto útil, em protesto contra a situação, afinal, Bush desde o primeiro mandato foi um tiro no pé. Arrogância, ignorância, prepontência, todas as qualificadoras dos norte-americanos perante, ao menos, os latino americanos. Ao contrário, foi a reação da sociedade a uma situação ultrapassada em busca de renovação, mudança. O comparecimento às urnas foi sem precedente na história do país. Filas intermináveis e esperas longas representaram a busca pela a mudança.
Falo do paradigma humano vindo de quem nasceu na década de 60 nos EUA das ações pelos direitos civis [não gosto de ligar a palavra luta a direitos civis. Martin Luther King seguiu o modelo de Gandhi buscando as marchas e manifestações pela desobediência civil - muito diferente de luta que pressupõe combate, conflito violento, domínio sobre o oponente].
Gostaria que viesse a público um pouco mais da biografia da mãe de Obama. Já li um pouco de tudo do positivo ao negativo, o fato é que ela foi uma transgressora, apaixonou-se e teve um filho de um negro, não um negro americano, um negro africano, do Quênia, em 1961! Trangressora ou não? Quando Sara Palin foi indicada para vice do Partido Republicano, jornalistas ávidos por sangue fresco, correram em busca das declarações de Obama a respeito da ultra-conservadora e sua filha de 17 anos grávida. Após ouvir as perguntas respondeu que ele nasceu quando sua mãe tinha 18 anos.
Esse é Barack Obama. Um homem público com princípios privados.
Admiro este vencedor nascido em numa família de baixa renda, no Havaí, ilha-estado distante dos grandes centros políticos, graduado em Harvard e Columbia, que escolheu o caminho de líder comunitário e professor à uma carreira jurídica num grande escritório, onde ganharia prestígio e dinheiro, muito dinheiro. Mas ei-lo agora a caminho da Casa Branca.
Torço por ele. Afinal, ele é não um exemplo, ele é o exemplo.
Estava escrito, Maktub. Boa sorte Mr. Obama.