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10 fevereiro, 2009

100 anos

Ontem o destaque foi o centenário de Carmen Miranda. Nesta época em que cada dia que passa é mais comum homens e mulheres comemorarem seus 100 anos [ou mais!], fiquei surpresa com a data. Afinal, Dercy Gonçalves morreu aos 101 anos lúcida, e Carmen Miranda está tão longe, cristalizada em imagens p&b ou em technicolor. Confesso que uma certa época me aborreci com as marchinhas de carnaval cantadas por ela de maneira tão exagerada, e com Maria Alcina que colou em sua imagem para tentar criar um gênero com voz grave. Mas Carmen tinha de ser daquela forma. Hoje ela é um ícone como Elvis Presley, fase Vegas. Gosto de sua imagem exuberante e alegre, da extravagância de seu figurino, dos sapatos plataforma, dos trejeitos. O triste é constatar que sabemos tão pouco e tão distorcido sobre sua carreira e que Madonna é cultuada como se esta fosse 'novidade, extravagância, liberação sexual etc'. Todos esses adjetivos cabem à Carmen, p.ex., é sabido que ela não usava calcinha para não marcar o traje [senso estético?], e Madonna, sabemos, é uma business woman acima de tudo, sua carreira foi milimetricamente construída. Isso faltou a Carmem. Ela declarou: 'A coisa mais importante para um artista é ser digno de um bom desempenho. Nunca tive diretor para os meus shows. Faço tudo como sinto.' Era uma mulher baixinha [1,52m] e na década de 20 e 30 do século passado já vestia terninho, ousadia para a época. Tinha um senso estético e estilo personalíssimos, e não estou falando dos turbantes recheados de frutas e balangandãs.
Carmen disse, 'Sempre fui muito mais desejada do que desejei', não sei estas palavras foram ditas com a melancolia do final ou com a auto-confiança de uma artista no auge.

Conheço superficialmente sua biografia. Sei que há uma escrita por Ruy Castro com quase 600 páginas. Mais adiante pode ser que eu a leia. Por agora, não.