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02 março, 2009

um poema da noite para o dia

foto: reprodução, Wikipedia
Tecendo a Manhã
1 Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. 2 E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão.

João Cabral de Melo Neto nasceu em Recife em 1920. Ingressou na carreira diplomática aos 25 anos, exercendo a função em diversos países, por mais de quarenta anos. Aposentado, fixou residência no Rio de Janeiro. Foi membro da Academia Brasileira de Letras de 1968 até falecer em 1999.