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28 maio, 2012

os sete

Não é de hoje que ouço ou leio a seguinte expressão: ai, que inveja boa; ou então, ai, que inveja de você, mas é inveja branca.

Ler ou ouvir estas expressões sempre me incomodou e eu achava ser meramente o incômodo por um aprendizado religioso antigo.

Mentalmente eu fazia a substituição por outro da mesma lista, a fim de traduzi-lo nesta nova versão: ira branca, avareza branca, luxúria boa...não funcionou; e transferindo para aqueles outros, até que minimizava os seus efeitos: preguiça branca, orgulho bom, gula branca...

Mas não era isso.

Num tempo em que quase tudo é permitido e em que aquilo que não é torna-se permitido, pensei, oras bolas, às favas esses sete pecados!

Não consegui esquecê-los, e sabem por quê? Porque eles ainda hoje são um eficiente roteiro da natureza humana.

Por vezes, ao longo das centenas de séculos, os doutores da igreja católica acertaram - já a maneira como aplicaram seus conceitos não deixa de ser questionável e/ou condenável, claro, mas aqui já é outra questão que foge do meu texto.

O papa Gregório Magno, lá no século VI, foi um precursor de Freud e da psicologia. Ao enumerar os sete pecados, ele sintetizou o lado escuro ou as sombras da natureza humana.

Querem ver só? Eliminem a palavra pecado - e se excluirá o contexto religioso que tanto incomoda - e substituam pela palavra excesso.

Se pensarmos que a igreja, naqueles dias, dominava a cena ocidental, é claro que o freio moral e social estava atrelado à noção de pecado; dominava-se, assim, corações e mentes. Que sacada brilhante introduzir a culpa como refúgio da dominação! Perfeito, não acham? Questionável mais uma vez, mas ao longo da história moderna muitos outros fizeram e ainda o fazem [Bin Laden ta aí e não me deixa mentir].

Para mim, o pecado é uma questão da moral religiosa, já o excesso é uma questão social.




Mas chega de blá-blá-blá dominical. Relembrando os sete
ira                         gula                   inveja
orgulho ou soberba
avareza            preguiça                        luxúria

Penso que invejar continua sendo uma emoção nociva, é a dificuldade em se admirar alguém ou uma realização desse alguém. Invejar é querer o que é do outro. É amargo e pesado, e vez ou outra nós invejamos, infelizmente.

A avareza não é só a caricatura do pão-duro, é o sentimento de apego desmedido por bens materiais e dinheiro, claro.

Um episódio muito recente me faz pensar na associação dos sentimentos de avareza, luxúria e gula: a crise financeira mundial de setembro/2008 com seus reflexos ainda hoje.

Já o orgulho, nossa, é a falta de humildade, a auto-suficiência que acomete tantas vezes as pessoas no trânsito caótico das grandes cidades, na arrogância de certas nacionalidades mundo afora e por aí vai.

Sobre a ira...nossa...tantas coisas acontecem a toda hora movidas pela raiva, pelo ódio e pela agressividade desmedida em atos e palavras...

E o que dizer da preguiça? Quantos serviços mal-executados, profissionais sem o menor interesse em trabalhar, lenientes e avessos a qualquer esforço? E sem falar naquela que se ouve em tempo de eleição “ahhh, votar pra quê? todos são farinha do mesmo saco?”, e por aí segue.

E vocês, o que pensam a esse respeito?








texto publicado originalmente em 14/03/2010