Não posso deixar passar em branco o falecimento de Sócrates, um dos jogadores de futebol mais elegantes em campo e fora de campo - sim, a sua elegância ultrapassava as quatro linhas e o tempo. Sócrates era o antiatleta. O anti-herói. O anti-óbvio.
Diante de tantas homenagens de especialistas esportivos e afins, publico o texto do jornalista Mauricio Stycer, em seu blog no site UOL:
Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira
(19/02/1954 – 4/12/ 2011)
Pelo
que fez em campo, Sócrates integra um grupo pequeno, o dos gigantes do futebol
brasileiro. Pela capacidade de reflexão sobre o seu ofício, ocupa um lugar
único. Nenhum atleta brasileiro foi capaz de pensar sobre os diferentes
aspectos do esporte, questionar os seus problemas e propor soluções com a sua
coragem e inteligência.
Some-se
a isso, Sócrates construiu uma imagem pública fascinante. O “antiatleta”, como
ele dizia, sempre fumou e bebeu, era um iconoclasta, sem papas na língua, tinha
prazer em chocar os mais conservadores com seu humor refinado e era de uma
simpatia a toda prova.
Essa
raríssima combinação – gigante em campo, gênio na tribuna, carismático no
dia-a-dia – obrigou muita gente a engolir Sócrates a contragosto. Na verdade,
num país com a estrutura esportiva pré-histórica que ainda tem o Brasil,
Sócrates sempre foi um incômodo para quem, de fato, manda – dirigentes,
políticos e empresários ocupados exclusivamente com os seus próprios interesses
e negócios.
Além
da tristeza gigante pela morte tão precoce de Sócrates, sinto muito também por
achar que as principais batalhas que enfrentou ainda estão muito longe de ter
um desfecho positivo. Mas não são batalhas perdidas. Sua voz será sempre
lembrada por aqueles que sonham com um mundo esportivo mais justo.
Mauricio Stycer